terça-feira, 11 de janeiro de 2011

As origens da cultura do ananás nos Açores

Os portugueses tomaram conhecimento com o ananás no séc. XVI. Pedro de Magalhães de Gândavo descreve assim o seu sabor “Depois que estão maduros, têm um cheiro mui suave, e comem-se aparados feitos em talhadas. São tão saborosos que, a juízo de todos, não há fruta neste reino (Portugal) que no gosto lhes faça vantagem”.

Em Outubro de 1848, foi escrito no jornal «O Agricultor Micaelense» (primeiro jornal agrícola, escrito em língua portuguesa), um artigo sobre o ananás, supondo-se ter sido feito por António Feliciano de Castilho, que nessa época era o redactor.

Com frases lisongeiras como: - «Hino perfumado da terra ao seu criador», «tem o diadema porque o não pode engeitar», «tem seduções, que atraem, porque lhas dêo, quem dá tudo», e ainda estoutras convencedoras «limitamo-nos a lembrar a conveniência, que o lavrador poderia encontrar em cultivá-lo; não só para o mercado de sua terra, mas para o d’além mar», «há segundo nos consta exemplos de se já ter creado, e oferecido às bafagens quentes do sul, frutear»…«dos creados em estufas não falemos; esses se não igualarem os da América pouquíssimo àquem lhes ficarão», - estava assim feita a propaganda do ananás.

O ananás foi introduzido nos Açores nos meados do séc. XIX, em especial na ilha de S. Miguel, como planta ornamental, aos poucos foi-se cultivando para consumo das casas ricas.

Fizeram-se as primeiras estufas e os ananases começaram a ser cultivados em vasos.

Isto resultou de experiências feitas pelo Sr. José Bensaúde, o primeiro cultivador de ananases.

A necessidade de encontrar um substituto para a laranja que se encontrava afectada por uma doença, a gomosa, foi a causa principal para a procura de um novo produto que preenchesse o vazio deixado por esse fruto no circuito comercial de exportação.

A primeira exportação de ananases data do dia 12 de Novembro de 1864, com óptimos resultados.

O entusiasmo pela cultura cresceu e começaram a construir-se muitas estufas, em Ponta Delgada, e arredores como Fajã de Baixo, S. Roque. Vila Franca do Campo, Ribeira das Tainhas, Ponta Garça, Lagoa e Ribeira Grande.

Em Janeiro de 1874, o «Gardener’s Chronicle», diz: «a cultura do ananás na Ilha de S. Miguel tem tomado grande incremento; a última colheita realizou interesses de consideração nos mercados ingleses, sendo a sua qualidade reconhecidamente superior à dos frutos de produção estrangeira».

Em 1875 estavam construídas estufas para 40.000 ananases, em determinadas regiões de S. Miguel, principalmente na área Sul, pois chegaram à conclusão que na parte norte só nos sítios mais soalheiros, o ananás produzia regularmente e na maior parte dos casos, apenas vegetava, onde se conclui, que a cultura do ananás, para maior felicidade nossa, constitui um monopólio, de certas regiões da Ilha de S. Miguel.

Em 1913 exportavam-se ananases para Inglaterra, Alemanha e Rússia. Nesse ano a exportação foi de 184.100 malotes; 1.463 quartos (meias caixas) e 116 grades, (contendo cada grade 1 ou 2 ananases, excepcionalmente belos, num vaso com a sua planta) com cerca de 2.000.000 de ananases, que produziram a bonita soma de 200.000 libras.

Actualmente muitas delas já não existem ou encontram-se em elevado estado de degradação como na zona mais central de Ponta Delgada, freguesia de São Pedro onde havia muitas e o que resta é pouco significativo, estando mais centrada a produção na Fajã de Baixo, Vila Franca do Campo e pouco mais.

Construíram-se muitas estufas e o ananás tornou-se um produto de grande rendimento para a ilha.

Durante a primeira guerra mundial, esta situação alterou-se drasticamente, fechando-se por completo os principais mercados de exportação, voltando a normalizar depois de acabada a guerra.

Em 1933 faz-se a concentração de venda do ananás em Londres, Hamburgo e Berlim. A exportação total de 1 de Janeiro de 1920 até 31 de Dezembro de 1933, foi de 1.728.381 caixas. Rebenta a segunda guerra mundial e surge uma nova crise mais séria que as outras anteriores pois parou quase por completo a produção de ananás.

Em 1951, tentaram-se novos mercados como a Suécia, Tânger e Irlanda, mas sem grande sucesso.

Após as grandes dificuldades de mercado originadas pelas duas guerras esta cultura nunca mais voltou a ter o desenvolvimento inicial pois tornou-se uma cultura com muita dificuldade de arranjar mercado, devido aos custos de produção e exportação que se tornaram elevados e ao aumento do preço de venda da fruta.

A produção do ananás desde a toca até ao fruto pronto a colher leva cerca de dois anos.


Estufa de ananás em 1953
Fonte: BORGES, Luis Manuel Agnelo

Acondicionamento da fruta em 1953
Fonte: BORGES, Luis Manuel Agnelo

 

                Estufa de ananáses          
Fonte: Profrutos, CRL

Flor da planta do ananás
Fonte: FREITAS, João M. da R.

Ananás jovem
Fonte: FREITAS, João M. da R.

Apanha do ananás
Fonte: FREITAS, João M. da R.


 Acondicionamento da fruta em 2008
Fonte: Cacilda Medeiros