domingo, 28 de junho de 2009

Casa da Grená, um património em vias de desaparecer

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Em 1832 um inglês descobre e maravilha-se com a zona envolvente da lagoa das Furnas, aí compra uma grande extensão de terreno para construir uma casa. Esta construção no entanto só aconteceu mais tarde com outro proprietário, o Cônsul inglês de Ponta Delgada, de seu nome Vines, no ano de 1858.






Aí construiu uma casa e deu início nos terrenos circundantes a um jardim, a esta propriedade deu o nome de Grená, onde vinha passar o verão com a família. Este nome tem haver com a esposa do cônsul que era sobrinha do politico irlandês Daniel O’Connel que organizou o movimento católico na Irlanda, tendo a senhora passado a juventude em Killarney numa estancia da família cujo nome era Grená, o Cônsul Vines em agrado á esposa deu esse nome á sua casa de verão na lagoa das Furnas.






Após a morte do cônsul Vines, esta é cedida em 1874 a um cirurgião de Londres chamado Hinton, que publicou na altura várias obras sobre os órgãos auditivos e higiene. Isto porque D. Catharina após a morte do marido não voltará mais às Furnas. Com a morte do cirurgião Hinton em 1875 a Grená passa para Jorge Brown que a explora como hotel durante o verão durante alguns anos. Durante este período acolheu alguns viajantes estrangeiros importantes entre os quais a escritora inglesa Alice Backer que escreveu o livro “A Summer in the Azores with a glimpse of Madeira” , entre outros como alguns que deixaram referências literárias e cientificas sobre as Furnas. Em 1882 a Grená é vendida pelo filho de D. Catarina a Jorge Hayes após a morte de Jorge Brown neste ano. Sendo mais tarde alugada por José do Canto enquanto este construía a sua casa do outro lado da lagoa e preparava a sua propriedade e a construção da ermida de Nossa Senhora da Vitória.






Informação tirada do livro de CORRÊA, Marquez de Jacome, Leituras sobre a história do Valle das Furnas, São Miguel, Oficina de Artes Gráficas, 1924.

O que é o património? Eis algumas respostas simples, por Simon Thurley

PÚBLICO - EDIÇÃO IMPRESSA - CULTURA
Director: José Manuel FernandesDirectores-adjuntos: Nuno Pacheco e Manuel Carvalho
POL nº 5475 Terça, 22 de Março de 2005


O presidente do English Heritage, o instituto britânico do património,esteve em Portugal. Simon Thurley diz que o grande desafio é convencer as pessoas a não trabalharem contra o desenvolvimento económico.
Para este especialista, "o património são as pessoas". E o futuro.

Por Lucinda Canelas

Simon Thurley, o presidente do English Heritage, o equivalente britânico ao Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar), esteve três dias em Portugal a visitar mosteiros e palácios. Ippar e English Heritage assinaram um protocolo de cooperação porque, segundo Thurley, têm muito a aprender um com o outro. Não é para menos: Portugal e o Reino Unido nunca trabalharam juntos nesta área. Thurley, 42 anos, dirige desde 2002 um dos maiores e mais conceituados institutos do património do mundo - é responsável por mais de 400 monumentos e sítios, recebe do governo 177 milhões de euros por ano e tem 11 milhões de visitantes.
Ex-director do Museu de Londres, Thurley diz que os britânicos se interessam cada vez mais pelo património e que os organismos que o tutelam se devem preocupar mais em "gerir a mudança" do que em tentar impedir que ela aconteça. "O património são as pessoas e o que elas investem nos tijolos."
É autor de livros sobre edifícios históricos e, considerado um comunicador nato, já fez vários programas de televisão para a BBC sobre património. Um deles, no ano passado, foi visto por mais de 1,5 milhões de pessoas. Um homem que fala da necessidade de comunicar e ter lucro sem complexos.

PÚBLICO - O que é que aproxima o English Heritage e o Ippar?
SIMON THURLEY - O English Heritage já trabalhou com todos os países da Europa dos 15 à excepção de Portugal, o que é muito estranho. Pelo que pude perceber, são provavelmente mais parecidos que qualquer outras duas organização de património da Europa: ambos têm de cuidar de monumentos, classificar edifícios e planear.
Que projectos quer realizar com o Ippar?

Ainda é cedo para adiantar pormenores. A maioria dos sítios do English Heritage são muito mais comerciais do que os do Ippar. E nós temos muito a aprender com a forma como o Ippar classifica os edifícios.

Em que medida?

Em Portugal, o processo de classificação é público, o proprietário é consultado. Em Inglaterra tudo é feito em segredo. Só se sabe que o edifício foi classificado quando o proprietário recebe uma carta. Não devia ser assim. O sistema português, que é mais discutido, é melhor, apesar de mais burocrático.No Reino Unido quanto tempo demora classificar um edifício?
Uma semana, um mês...
Em Portugal pode levar dez anos...
É um dos custos da consulta pública. Gostávamos de ter um sistema que não fosse tão lento como o vosso mas igualmente aberto.
Qual é o vosso principal objectivo?
Garantir que o "ambiente histórico" é passado às gerações futuras tal como chegou até nós ou melhor. Passamos muito tempo a identificar os bens que queremos salvar e as soluções para a sua conservação.

O que é que quer dizer exactamente com "ambiente histórico"?

Preferimos usar "ambiente histórico" porque abarca tudo: paisagens, jardins, parques, sítios arqueológicos, edifícios medievais, palácios do século XVIII, arranha-céus dos anos 60.

Quantos bens têm de gerir?

Temos 420 sítios de gestão directa abertos ao público. Mas temos cerca de 400 mil edifícios classificados e 30 mil sítios arqueológicos.

Quais são os principais desafios que o património britânico enfrenta?

A Inglaterra está a atravessar um período de profundas transformações económicas, o que cria uma grande pressão nas infra-estruturas: estradas, aeroportos. Todos estes equipamentos têm potencial para afectar o património. O nosso desafio é fazer com que estas transformações melhorem o "ambiente histórico".

Qual é a chave para conciliar "ambiente histórico" e desenvolvimento económico?
Convencer as pessoas de que é melhor trabalhar com o "ambiente histórico" do que contra ele.
O financiamento não é um problema?
É um problema enorme. Este ano recebemos do Governo 177 milhões de euros e tivemos de receitas próprias 72,4 milhões. Mas as contribuições do Governo estiveram congeladas durante dez anos...
Os trabalhistas apoiam o património?

Não temos sido bem financiados, mas espero que no futuro venhamos a ser porque o nosso trabalho é reconhecido assim como o papel social do património.

Qual é o vosso ponto forte?

A mais-valia está na nossa grande experiência comercial. O sistema de protecção do património costumava ser um dos mais avançados. Hoje não é. É por isso que é preciso reformá-lo.

Que reforma é essa?

A conservação tinha a ver com preservação - impedir que as coisas acontecessem. O que queremos agora é mudar a forma como as pessoas pensam a conservação - ela tem sobretudo a ver com a gestão da mudança. É ela que cria a história e, por isso, o "ambiente histórico". Temos de ajudar as pessoas, que se interessam cada vez mais pelo património, a aceitar a mudança.

Como é que explica esse interesse?

Com a própria mudança. O desenvolvimento económico faz com que as pessoas olhem para trás à procura do que é permanente.

O que é que define o património?

As pessoas. Há dois erros comuns no que diz respeito ao património. O primeiro é pensar que é sobre edifícios - é sobre as pessoas e o que elas investem nos tijolos. O segundo é pensar que é sobre o passado - é sobre o futuro, o que ficará depois de nós desaparecermos.