segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Ruínas de um passado

Ermida de Nossa Senhora da Victoria (Relva)

Ermida construida pelo Padre Manoel Fernandes Victoria, num casal e corpo de terras, que rendia 90 moios de trigo, vinculado em favor de sua sobrinha D. Mariana Victoria de Faria, mulher de Francisco Machado de Faria e Maia.

CANTO, Ernesto do, Noticia sobre as igrejas, ermidas e altares da Ilha de S.Miguel, in Insvlana, Ponta Delgada, vol. LVI, pag. 239.


domingo, 6 de fevereiro de 2011

A Casa de São Bento em Ponta Delgada, que futuro queremos para o nosso Património

                      Direitos de imagem:http://ilhas.blogspot.com/



por Isabel Soares de Albergaria



Há dias passei na rua da Misericórdia e apercebi-me de obras vultuosas na casa de São Bento, uma das últimas casas nobres do século XVII que resistiam na cidade de Ponta Delgada. Alertada pela dimensão das máquinas que operavam através de uma enorme abertura que entretanto tinha sido rasgada na fachada, dirigi-me à Câmara no intuito de procurar informações junto do responsável pelas obras daquela zona da cidade. Da conversa obtive como garantia que o projecto licenciado pela autarquia obrigava à manutenção da fachada, embora previsse uma completa destruição do interior, além do acrescento de mais um piso que se assumia na sua linguagem actual. Achei mal. Como? Só a fachada? Uma casa documentadamente do século XVII, que conservava em estado razoavelmente intactos os espaços e a lógica da distribuição interior, além de uma magnífica cozinha lajeada com lar aberto por dois arcos e armários de pedra nas paredes? Não seria possível exigir um mínimo de sensibilidade que garantisse a manutenção do carácter do edifício?! Parecia-me absurdo, também, que esse não fosse o entendimento dos serviços técnicos da Câmara. E era. Mas só o entendimento, porque tudo o resto joga a desfavor. O edifício em causa não estava classificado, logo, não merecia a menor consideração e respeito! O PDM não prevê qualquer medida de salvaguarda para os edifícios históricos, mencionando apenas os limites de índice de ocupação! Índices de ocupação! Mas a tanto se reduz a arquitectura? Infelizmente, este entendimento absurdo de que mantendo a fachada se está a conservar o edifício é muito mais difundido do que poderíamos pensar. No senso comum parece ter-se instalado a ideia de que a acção de conservação do património deve limitar-se à manutenção do frontispício, sendo absolutamente legítimo alterar os interiores à vontade do freguês. Vejamos: ou há valor e interesse no edifício e nesse caso deve ser mantido com a integridade possível (mesmo admitindo que tenha que ser parcialmente alterado, adaptado e ajustado à nova função), ou pura e simplesmente não tem interesse e nesse caso deve dar lugar a um novo. O que não pode é confundir-se o edifício com a sua fachada. Ela não é mais do que o seu rosto. Mantê-la para lhe destruir o corpo inteiro faz lembrar aqueles jogos em que se combinam diferentes corpos em várias cabeças. O jogo diverte, mas pelo lado do insólito e da farsa! A casa de São Bento na Rua da Misericórdia tinha um rosto um pouco desfigurado, é certo! Faltava-lhe já a ermida que o Pe. João Borges da Câmara (1654-1705) mandara erguer à ilharga da sua casa de moradia em 1671. A ermida dedicada a São Bento encontrava-se em 1699 “bem paramentada do necessário para o culto divino”; depois do período liberal foi profanada, e na década de 20 ou 30 do século XX demolida por António Manuel de Vasconcelos. Os últimos 50 anos acrescentaram novas feridas graves a esse rosto um tanto maltratado, como o rasgamento de extensos vãos no rés-do-chão que lhe alteraram a regularidade rítmica dos vãos e as relações métricas entre cheios e vazios. Mas ainda que desfigurada na sua fachada, a casa de São Bento permanecia como testemunho histórico. História longa de mais de três séculos, tendo conhecido épocas prósperas e outras menos prósperas. Reza a tradição que esta casa teria sido a primeira da cidade de Ponta Delgada a ter vidros nas janelas! Sinal de grande abastança e conforto se comparado com os postigos pequenos com grades de madeira que usualmente tapavam as janelas das casas. Exibia além disso a gramática decorativa própria do que Luís Bernardo Leite Ataíde chamava o “estilo micaelense”. Desde meados do século XVIII, na posse sempre da família Medeiros da Câmara (antepassados do visconde e marquês da Praia), a casa foi arrendada a mercadores de grosso trato, que a viam como exemplo de uma casa nobre. É o caso de Joaquim da Costa Barradas, contratador do tabaco e, no início de 1800, de António José de Vasconcelos, seu sucessor no estanco do tabaco e grande comerciante originário da ilha Terceira. Nos séculos XIX e XX recebeu outros inquilinos, abrigou muitas outras famílias. Hoje a casa de São Bento já não pode contar mais histórias, calaram-se os segredos das suas paredes. Perante o facto consumado só espero que duas coisas aconteçam: 1- que apesar de tudo, a empresa construtora seja compelida a pagar a respectiva multa por desrespeito sumário do projecto que entregou e licenciou na Câmara. A não ser assim estaria a dar-se um sinal claro de que o crime compensa; 2-que a Câmara exija o desenho de uma nova fachada condizente com o novo edifício que tem por detrás. O que não deve, não pode acontecer, é a mascarada que tem grassado por esta cidade de fachadas fingidas em que nada, absolutamente nada, é autêntico, a não ser duas ou três pedras de cantaria lavradas. Não faz qualquer sentido sustentar uma arquitectura cenário para contento das falsas consciências do decoro e decência histórico-patrimonial. Não serve para nada este faz-de-conta em que tudo está errado: erradas as proporções, os materiais, a espessura da parede. E acima de tudo, perdido o sentido. Em conclusão, gostava só de deixar esta ideia: nem todo o edificado de um centro histórico como o de Ponta Delgada tem que ser mantido. Muitos dos seus edifícios não têm carácter histórico ou arquitectónico que mereça a sua conservação, desde que uma arquitectura qualificada os venha substituir. Por outro lado, nos casos em que se justifique o cuidado pela manutenção, é preciso entender o edifício como um todo, o corpo inteiro e não apenas um rosto.

Texto publicado pela Drª Isabel Soares de Albergaria

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

As origens da cultura do ananás nos Açores

Os portugueses tomaram conhecimento com o ananás no séc. XVI. Pedro de Magalhães de Gândavo descreve assim o seu sabor “Depois que estão maduros, têm um cheiro mui suave, e comem-se aparados feitos em talhadas. São tão saborosos que, a juízo de todos, não há fruta neste reino (Portugal) que no gosto lhes faça vantagem”.

Em Outubro de 1848, foi escrito no jornal «O Agricultor Micaelense» (primeiro jornal agrícola, escrito em língua portuguesa), um artigo sobre o ananás, supondo-se ter sido feito por António Feliciano de Castilho, que nessa época era o redactor.

Com frases lisongeiras como: - «Hino perfumado da terra ao seu criador», «tem o diadema porque o não pode engeitar», «tem seduções, que atraem, porque lhas dêo, quem dá tudo», e ainda estoutras convencedoras «limitamo-nos a lembrar a conveniência, que o lavrador poderia encontrar em cultivá-lo; não só para o mercado de sua terra, mas para o d’além mar», «há segundo nos consta exemplos de se já ter creado, e oferecido às bafagens quentes do sul, frutear»…«dos creados em estufas não falemos; esses se não igualarem os da América pouquíssimo àquem lhes ficarão», - estava assim feita a propaganda do ananás.

O ananás foi introduzido nos Açores nos meados do séc. XIX, em especial na ilha de S. Miguel, como planta ornamental, aos poucos foi-se cultivando para consumo das casas ricas.

Fizeram-se as primeiras estufas e os ananases começaram a ser cultivados em vasos.

Isto resultou de experiências feitas pelo Sr. José Bensaúde, o primeiro cultivador de ananases.

A necessidade de encontrar um substituto para a laranja que se encontrava afectada por uma doença, a gomosa, foi a causa principal para a procura de um novo produto que preenchesse o vazio deixado por esse fruto no circuito comercial de exportação.

A primeira exportação de ananases data do dia 12 de Novembro de 1864, com óptimos resultados.

O entusiasmo pela cultura cresceu e começaram a construir-se muitas estufas, em Ponta Delgada, e arredores como Fajã de Baixo, S. Roque. Vila Franca do Campo, Ribeira das Tainhas, Ponta Garça, Lagoa e Ribeira Grande.

Em Janeiro de 1874, o «Gardener’s Chronicle», diz: «a cultura do ananás na Ilha de S. Miguel tem tomado grande incremento; a última colheita realizou interesses de consideração nos mercados ingleses, sendo a sua qualidade reconhecidamente superior à dos frutos de produção estrangeira».

Em 1875 estavam construídas estufas para 40.000 ananases, em determinadas regiões de S. Miguel, principalmente na área Sul, pois chegaram à conclusão que na parte norte só nos sítios mais soalheiros, o ananás produzia regularmente e na maior parte dos casos, apenas vegetava, onde se conclui, que a cultura do ananás, para maior felicidade nossa, constitui um monopólio, de certas regiões da Ilha de S. Miguel.

Em 1913 exportavam-se ananases para Inglaterra, Alemanha e Rússia. Nesse ano a exportação foi de 184.100 malotes; 1.463 quartos (meias caixas) e 116 grades, (contendo cada grade 1 ou 2 ananases, excepcionalmente belos, num vaso com a sua planta) com cerca de 2.000.000 de ananases, que produziram a bonita soma de 200.000 libras.

Actualmente muitas delas já não existem ou encontram-se em elevado estado de degradação como na zona mais central de Ponta Delgada, freguesia de São Pedro onde havia muitas e o que resta é pouco significativo, estando mais centrada a produção na Fajã de Baixo, Vila Franca do Campo e pouco mais.

Construíram-se muitas estufas e o ananás tornou-se um produto de grande rendimento para a ilha.

Durante a primeira guerra mundial, esta situação alterou-se drasticamente, fechando-se por completo os principais mercados de exportação, voltando a normalizar depois de acabada a guerra.

Em 1933 faz-se a concentração de venda do ananás em Londres, Hamburgo e Berlim. A exportação total de 1 de Janeiro de 1920 até 31 de Dezembro de 1933, foi de 1.728.381 caixas. Rebenta a segunda guerra mundial e surge uma nova crise mais séria que as outras anteriores pois parou quase por completo a produção de ananás.

Em 1951, tentaram-se novos mercados como a Suécia, Tânger e Irlanda, mas sem grande sucesso.

Após as grandes dificuldades de mercado originadas pelas duas guerras esta cultura nunca mais voltou a ter o desenvolvimento inicial pois tornou-se uma cultura com muita dificuldade de arranjar mercado, devido aos custos de produção e exportação que se tornaram elevados e ao aumento do preço de venda da fruta.

A produção do ananás desde a toca até ao fruto pronto a colher leva cerca de dois anos.


Estufa de ananás em 1953
Fonte: BORGES, Luis Manuel Agnelo

Acondicionamento da fruta em 1953
Fonte: BORGES, Luis Manuel Agnelo

 

                Estufa de ananáses          
Fonte: Profrutos, CRL

Flor da planta do ananás
Fonte: FREITAS, João M. da R.

Ananás jovem
Fonte: FREITAS, João M. da R.

Apanha do ananás
Fonte: FREITAS, João M. da R.


 Acondicionamento da fruta em 2008
Fonte: Cacilda Medeiros




quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A cultura do tabaco na ilha de São Miguel

Desde o inicio de oitocentos, as experiências efectuadas pelo desembargador Vicente José Ferreira Cardoso da Costa tinham aconselhado a introdução da cultura do tabaco na ilha de São Miguel, mercê da riqueza do seu solo e do seu clima.

O tabaco foi introduzido em S. Miguel em 1815. Inicialmente o seu local de produção foi nas Furnas, mais tarde com o declínio do ciclo da laranja, o tabaco surge como uma nova esperança a nível económico. Um dos grandes impulsionadores desta nova indústria foi José Bensaude que em 1866 funda a sociedade Fábrica de Tabaco Micaelense.




Esta cultura teve grande expansão nos Açores, originando o surgimento de cerca de 19 fábricas. Apesar de haver muita produção, eram poucos os consumidores, pois muitos agricultores produziam para consumo próprio. Tornou-se então necessário exportar para o Continente e para a Madeira, mas a lei de 18 de Agosto de 1887, veio prejudicar a Região, pois os tabacos açorianos exportados para o reino passaram a ser tributados com os mesmos direitos dos tabacos estrangeiros, dificultando assim o acesso ao mercado do continente e com o excesso de produção, muitas fábricas fecharam por falta de mercado.



Actualmente existe em Ponta Delgada, duas fábricas, a Fábrica de Tabaco Micaelense e a Fábrica de Tabaco Estrela, tendo sido esta última fundada em 1883, por José Medeiros Cogumbreiro. Na Maia zona de grande produção de tabaco antigamente, existe ainda uma fábrica que apesar de não laborar está transformada num núcleo museológico, dando assim o seu contributo para a preservação deste nosso património para as gerações futuras.

A sua produção:

São as fábricas que semeiam o tabaco a partir de sementes colhidas no ano anterior, as plantas são cedidas aos agricultores para manter a qualidade do tabaco, são transplantadas em Março ou Abril. Durante o período de desenvolvimento da planta o agricultor tem de manter o terreno limpo de ervas e arejar o solo com sachas. Vai fazendo a desponta (corte dos ramos e flores terminais) e esladroamento ou desneto (retirar os rebentos nascidos depois da desponta).



As plantas atingem a maturação em Julho ou Agosto, são então cortadas e estendidas no chão um a dois dias e depois colocadas a secar em lugar abrigado e arejado os “secadores”, aí com o passar do tempo as folhas vão mudando de cor, ficando num tom acastanhado ao fim de 25 dias, secas e sem humidade, depois as folhas são retiradas dos caules e seleccionadas por tamanho e agrupadas em molhos, seguindo depois para a fábrica para serem trabalhadas mecanicamente para o fabrico de diversos produtos como os cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos, rapé e para ser mascado.

domingo, 3 de outubro de 2010

A arte do azulejo nos revestimentos parietais exteriores, o caso da Vila da Lagoa, S. Miguel Açores

Azulejo: peça de cerâmica de pouca espessura quadrada com uma das fases decorada de maneira policromática ou monocromática, lisa ou com relevo, sendo vidrada o que a torna impermeável é usado como elemento associado á arquitectura.

Os seus padrões e usos variam consoante a época histórica.

Inicialmente os azulejos nos Açores eram importados do continente português e neste, alguns eram importados de Andaluzia e mais tarde, no século XVII e princípios de XVIII um dos mercados abastecedores era a Holanda. Os exemplares mais antigos conhecidos nos Açores pertencem ao século XV, foram importados para a ermida de Nossa Senhora dos Remédios da Lagoa.

Nos Açores, as fábricas de cerâmica surgiram nas duas principais ilhas, São Miguel e Terceira.

As primeiras tentativas de uma fábrica de cerâmica em São Miguel, foram na zona da Pranchinha em Ponta Delgada no ano de 1823 e depois em 1851, funcionando somente durante alguns anos, com pouca relevância.

Anos mais tarde surge a primeira fábrica na Lagoa, fundada em 1862 por Bernardino da Silva e Manuel Leite Pereira, naturais de Vila Nova de Gaia, Tomás de Ávila Boim, natural da ilha do Pico e Manuel Joaquim d’Amaral, natural da Vila da Povoação. Foi construída junto ao Porto dos Carneiros. Alguns anos depois Manuel Leite Pereira separou-se da sociedade acima referida e construiu uma nova fábrica no local das Alminhas, Vila da Lagoa, em 1872 com o nome de “Fábrica Açoriana” que rapidamente se afirmou pela qualidade dos seus produtos, em 1907 tinha cerca de 25 operários. Que ainda existe hoje em dia a funcionar.

Uma terceira fábrica surge em 1885 na antiga rua de São Sebastião, actual Av. Poças Falcão, Vila da Lagoa, por João Leite Pereira, natural de Vila Nova de Gaia e irmão de Manuel Leite Pereira, co-fundador da primeira fábrica e fundador da segunda.

Diz o Dr. Carreiro da Costa que o azulejo na Lagoa se fabrica desde que as fábricas começaram a laborar.

Anteriormente estes eram importados de Portugal, a produção mais antiga começa com a fábrica de Bernardino da Silva, que desde o início adopta as técnicas e modelos trazidos de Vila Nova de Gaia e Barcelos pelo próprio, e desde o começo manteve não só a produção de louça mas também de azulejos utilitários e de uso artístico. Nas fábricas da Lagoa foram feitos azulejos moldados, usando formas provenientes do Porto ou mesmo de Inglaterra, azulejos de pintura livre

A produção Micaelense de azulejo foi procurar inspiração ao que se fabricava no norte de Portugal, mais concretamente na zona Porto, ainda hoje em dia muitos dos azulejos que se encontram nas fachadas desta Vila da Lagoa, têm muito em comum com os da cidade nortenha, com algumas pequenas modificações, mesmos as cores são semelhantes, o uso do azul e branco, as dimensões 13x13 cm na sua maioria, surge assim o chamado azulejo padrão, que forma uma composição que é repetida, sendo acessível para o revestimento de paredes pois é de pouco custo.

Segue em exemplo a entrada da Fábrica anteriormente de Manuel Leite Pereira que na sua fachada tem uma espécie de catálogo dos tipos de azulejo que se podia encomendar, seus desenhos, padrões e cores, também existe neste espaço as barras que serviam de remate horizontal e vertical, há a cercadura que é composta por uma fileira de azulejo e as faixas que são compostas por meio azulejo, são peças rectangulares.


O processo de fabrico do azulejo era todo manual desde o amassar do barro com a água para o tornar numa massa com a consistência certa para ser depois trabalhado, sobre uma mesa colocava-se um pedaço de barro entre duas ripas de madeira paralelas da mesma espessura e era rolado até formar uma placa uniforme que depois com a ajuda de um molde tipo carimbo era recortado com uma faca, sendo as imperfeições corrigidas com uma lixa muito fina, eram colocados em estrados para serem secos ao sol.

Depois de cozidos em fornos de lenha, os azulejos eram empilhados para serem vidrados, esta primeira cozedura é chamada de chacote. Quando está pronto o vidrado tem aspecto leitoso, o azulejo é mergulhado e retirado sendo limpo o excesso com ajuda de uma lâmina isto evita que as peças se colam umas às outras.

Fica a secar para depois ser pintado, a face da pintura continua a ser na maioria manual aqui na Lagoa, sendo usado como processo semi-industrial a técnica da estampilha, onde é colocado sobre o azulejo uma máscara que pode ser em papel ou uma placa metálica com o desenho desejado, depois passa-se uma pincel com tinta sobre a placa conforme o número de cores varia o número de placas com desenho diferente. A tinta azul antes de ser cozida tem um tom vermelho que depois se altera por oxidação com a cozedura a alta temperatura devido á existência de ferro na sua composição ficando depois azul.

O azulejo de relevo era feito com um molde em gesso, o processo é igual aos outros só no final o barro era colocado dentro do molde que era primeiro untado com uma substância para evitar que o barro se cola-se, deixava-se secar um pouco e retirava-se, sendo o acabamento feito á mão para retirar as imperfeições.

O azulejo nos Açores foi usado inicialmente como revestimento de interiores principalmente em ermidas e igrejas, ou como decoração isolada em painéis, foi em S. Miguel e Santa Maria que se enraizou a moda de cobrir de azulejo a frente dos altares e segundo J. Santos Simões veio encontrar a mais extraordinária colecção destas curiosas aplicações que evoluíram no tempo para além do que se encontra em Portugal, sendo mais tarde usados em revestimento de paredes exteriores, a partir da segunda metade do século XIX.

Usados também em painéis historiados, placas de toponímia, nas chamadas Alminhas, painel de azulejos de pequena dimensão com decoração aleatória representando as almas do purgatório tendo na base iniciais P.N. (Padre nosso) ou A.V. (Ave Maria).



Primeira Fabrica Cerâmica 1862 – Porto dos Carneiros


Fachada na rua das Alminhas com azulejos enxaquetados


Casa situada na rua Calhau da Areia nº 51


Restaurante Borda d’Água


Casa na rua do Porto nº 7



Casa nº 37 na Rua da Boavista



Casa onde viveu Bernardino da Silva, rua da Boavista nº 5/7



Fachada do edifício de vendas inaugurado em 1952



quinta-feira, 22 de julho de 2010

Moinhos de água da Ribeira Funda

Na freguesia dos Fenais da Ajuda, no concelho da Ribeira Grande existe um local chamado Ribeira Funda.Uma pequena zona populacional com algumas casas e uma ermida dedicada a Nossa Senhora da Aflição, onde se localiza uma ribeira com o mesmo nome devido às suas altas encostas.

Outrora havia nesta ribeira, alguns moinhos de água que eram habitados pelos próprios donos pois estas estruturas ficavam afastadas das restantes casas e perto do curso de água, cujo caudal extenso e abundante permitia uma boa laboração destes moinhos.

Ainda hoje existem alguns destes moinhos em estado de poderem ser recuperados, podendo servir como exemplo para as gerações presentes e futuras.

Estes moinhos estão alinhados perpendicularmente á foz da ribeira, são moinhos de rodízio, que funcionavam com uma levada que se encontra actualmente na sua grande maioria degradada.

Cada um destes moinhos fica a um nível diferente na encosta com uma torre de descarga. Algumas destas torres, apesar de se encontrarem em ruínas, consegue-se ainda perceber como funcionavam. Estes moinhos, são construídos em alvenaria de pedra à vista, com telhado de duas águas, assim como as levadas, em alguns pode-se ainda ver a zona do forno e chaminé, num deles a estrutura do forno fica no interior do moinho e a boca do forno no exterior sendo protegida por uma pequena estrutura em pedra.





 






quinta-feira, 16 de julho de 2009

Fornos de carvão na margem da lagoa das Furnas







Vida Antiga e Actual Ligada à Actividade do Carvão nas Furnas


Nas Furnas, actualmente, o sector primário, na área da agro-pecuária, é o principal vector económico, embora o Turismo seja uma actividade que, nas últimas décadas se encontra em forte crescimento, revelando-se um importante factor de desenvolvimento para os habitantes locais.
Mas há 40, 50 anos atrás, época em que se produzia Carvão em Fornos com vista à comercialização, a vida não era fácil, o trabalho duro era herança comunitária de todos, não havia muitos transportes (praticamente todos andavam a pé) e o fabrico desta matéria estava ligado a pessoas de um nível social baixo e servia para a obtenção de dinheiro extra, algo que escasseava na altura.
Estas aberturas de exploração à natureza revelavam-se um meio de fornecimento para as comunidades locais ou mesmo mais afastadas, enquanto proviam emprego e sustento para várias famílias.Por outro lado beneficiava de uma procura relativamente elevada, sem os meios energéticos alternativos que são do nosso conhecimento.
Eram geralmente os homens quem se dedicava á apanha da lenha que depois seccionavam em toros de cerca de 50 centímetros aos quais ateavam fogo e deixavam arder abafados dentro desta espécie de algares artificialmente construídos. O carvão obtido era depois transportado e pesado para venda.
Com o advento de uma nova era os combustíveis alternativos foram tornando o carvão cada vez menos necessário e hoje em dia estes fornos abandonados não passam de apontamentos na paisagem.



Localização e Formato dos Fornos


Regra geral, os fornos de carvão vegetal erguem-se na periferia da freguesia. Situam-se na margem da lagoa das Furnas. A razão da sua localização prende-se com o facto de a zona referida ser abundante em madeira e ainda por constituírem, junto ao povoado, um grave perigo de incêndio.
Dos restos de fornos que visitei, apenas dois, dos cinco existentes, ainda se encontram em bom estado, apresentando cerca de 3 metros de altura e três metros de diâmetro, estão construídos em pedra, aparelhada com barro (visto este ser um bom refractor de calor).
Á distancia, o forno apresenta uma estrutura cilíndrica, com uma pequena abertura no topo, onde seria colocada uma tampa de ferro tendo aposta à sua parte traseira uma chaminé. Nas laterais colocava-se terra aglomerada com a finalidade de conservar o calor.
Um dos lados possuía ainda uma pequena entrada por onde se tinha que introduzir o homem responsável por colocar a madeira, sempre de dentro para fora e de baixo para cima.
Interiormente, apresenta uma forma abobadada.
Frequentemente, sob a acção repetida do calor estes fornos detioravam-se e tinham que ser recompostos pela própria população.


Funcionamento dos Fornos / Fases do Fabrico do Carvão


Apesar de haver breves memórias, por parte dos informadores, foi-me dito que todo o funcionamento e o processo do seu fabrico, passava primeiro pelo derrube de árvores e por partir os enormes troncos em pequenas achas de madeira, cujo comprimento não devia ultrapassar os 50 cm de comprimento e os 20 cm de largura.
Em seguida eram colocados essas achas no interior dos fornos (há memórias de que cada forno chegava a levar três toneladas e mais) de que resultariam, no fim, uns quatrocentos e cinquenta quilos de carvão, por forno.
Depois do forno, estar completamente cheio, era incendiado, na parte superior era colocada então a tampa de ferro e era fechada a entrada por onde eram introduzidas as achas , não se devia atear o fogo mas abafá-lo, porque o segredo era ir queimando devagarinho, uma combustão lenta significava que a lenha se ia transformando em carvão e não em cinza. Os informadores não souberam ao certo quanto tempo durava todo este processo.
Uma certeza havia: quanto mais qualidade se queria dar ao carvão, mais tempo demorava a lenha a queimar. Durante todo este processo, tinham os carvoeiros de ser vigilantes, verificando o estado do forno de manhã, ao almoço, à tardinha e à noite, quatro ou cinco vezes por dia.
Ateado o forno, uma das técnicas que era usada, tinha a ver com a abertura de buracos laterais, que abrindo ou fechando servia para adiantar ou atrasar a combustão.
Depois de pronto, o carvão era então retirado e colocado em sacas para comercialização.

Texto tirado de um trabalho realizado por Jorge Alberto Couto, aluno do Curso de Património Cultural da Universidade dos Açores.

Fornos de carvão vegetal das Furnas um património que deve ser preservado e aproveitado para mostrar uma outra faceta da vida dos nossos antepassados.
Nem seria necessário grandes recuperações, apenas mante-los limpos deixando ficar o ambiente que os rodeia como está, o que lhes dá um ambiente muito especial.

domingo, 5 de julho de 2009

Currais de vinha o saber dos nossos antepassados

Segundo Gaspar Furtuoso “ nesta ilha de São Miguel não costumam fazer vinhas senão sobre pedras que, no tempo passado, com terramotos e incêndios de enxofre e salitre, e outros materiais, brotaram de debaixo da terra e correram em ribeiras de fogo sobre a superfície dela, as quais resfriadas da quentura com que corriam, ficaram feitas pedras e áspera penedia, sobre a qual pelo tempo adiante se criou e nasceu basto e altíssimo arvoredo, o qual roçando depois os moradores desta ilha, por aqueles biscoitais não prestarem para terra de pão nem de outros legumes, prantaram neles vinhas”.

Foto: JPedro
Foto: Fernando Abreu

Foto: Fernando Abreu


Com sabedoria e criatividade, o micaelense triunfou perante as adversidades da natureza, transformando pedra improdutiva no seu modo de sustento, plantando a vinha, protegendo-a dos ventos fortes e do rossio do mar através da construção de uma estruturada malha de muros, onde sobressaem os “currais”.

O reticulado de muros levantados a partir das rochas expelidas pelo vulcão, associado á excelência dos campos de lava e á vegetação natural, formam uma ambiência suigeneris que impressiona pela sua perfeição. Nesta área o elemento fundamental está espelhado na unicidade estabelecida pela impressionante rede de muros testemunhos de uma sábia forma de rentabilização de recursos, e que formam uma teia perfeitamente ordenada, constituída por um rendilhado de muros de pedra negra, onde se encontram desenhados os “currais”.


MEDEIROS, Carlos Alberto, Contribuição para o estudo da vinha e do vinho nos Açores, Finisterra, XXIX, 58, 1994.

O que resta dos antigos currais de vinha de S. Caetano e Quinta da Glória, na zona de Rosto do Cão em São Miguel.

domingo, 28 de junho de 2009

Casa da Grená, um património em vias de desaparecer

Direitos reservados
















Em 1832 um inglês descobre e maravilha-se com a zona envolvente da lagoa das Furnas, aí compra uma grande extensão de terreno para construir uma casa. Esta construção no entanto só aconteceu mais tarde com outro proprietário, o Cônsul inglês de Ponta Delgada, de seu nome Vines, no ano de 1858.






Aí construiu uma casa e deu início nos terrenos circundantes a um jardim, a esta propriedade deu o nome de Grená, onde vinha passar o verão com a família. Este nome tem haver com a esposa do cônsul que era sobrinha do politico irlandês Daniel O’Connel que organizou o movimento católico na Irlanda, tendo a senhora passado a juventude em Killarney numa estancia da família cujo nome era Grená, o Cônsul Vines em agrado á esposa deu esse nome á sua casa de verão na lagoa das Furnas.






Após a morte do cônsul Vines, esta é cedida em 1874 a um cirurgião de Londres chamado Hinton, que publicou na altura várias obras sobre os órgãos auditivos e higiene. Isto porque D. Catharina após a morte do marido não voltará mais às Furnas. Com a morte do cirurgião Hinton em 1875 a Grená passa para Jorge Brown que a explora como hotel durante o verão durante alguns anos. Durante este período acolheu alguns viajantes estrangeiros importantes entre os quais a escritora inglesa Alice Backer que escreveu o livro “A Summer in the Azores with a glimpse of Madeira” , entre outros como alguns que deixaram referências literárias e cientificas sobre as Furnas. Em 1882 a Grená é vendida pelo filho de D. Catarina a Jorge Hayes após a morte de Jorge Brown neste ano. Sendo mais tarde alugada por José do Canto enquanto este construía a sua casa do outro lado da lagoa e preparava a sua propriedade e a construção da ermida de Nossa Senhora da Vitória.






Informação tirada do livro de CORRÊA, Marquez de Jacome, Leituras sobre a história do Valle das Furnas, São Miguel, Oficina de Artes Gráficas, 1924.

O que é o património? Eis algumas respostas simples, por Simon Thurley

PÚBLICO - EDIÇÃO IMPRESSA - CULTURA
Director: José Manuel FernandesDirectores-adjuntos: Nuno Pacheco e Manuel Carvalho
POL nº 5475 Terça, 22 de Março de 2005


O presidente do English Heritage, o instituto britânico do património,esteve em Portugal. Simon Thurley diz que o grande desafio é convencer as pessoas a não trabalharem contra o desenvolvimento económico.
Para este especialista, "o património são as pessoas". E o futuro.

Por Lucinda Canelas

Simon Thurley, o presidente do English Heritage, o equivalente britânico ao Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar), esteve três dias em Portugal a visitar mosteiros e palácios. Ippar e English Heritage assinaram um protocolo de cooperação porque, segundo Thurley, têm muito a aprender um com o outro. Não é para menos: Portugal e o Reino Unido nunca trabalharam juntos nesta área. Thurley, 42 anos, dirige desde 2002 um dos maiores e mais conceituados institutos do património do mundo - é responsável por mais de 400 monumentos e sítios, recebe do governo 177 milhões de euros por ano e tem 11 milhões de visitantes.
Ex-director do Museu de Londres, Thurley diz que os britânicos se interessam cada vez mais pelo património e que os organismos que o tutelam se devem preocupar mais em "gerir a mudança" do que em tentar impedir que ela aconteça. "O património são as pessoas e o que elas investem nos tijolos."
É autor de livros sobre edifícios históricos e, considerado um comunicador nato, já fez vários programas de televisão para a BBC sobre património. Um deles, no ano passado, foi visto por mais de 1,5 milhões de pessoas. Um homem que fala da necessidade de comunicar e ter lucro sem complexos.

PÚBLICO - O que é que aproxima o English Heritage e o Ippar?
SIMON THURLEY - O English Heritage já trabalhou com todos os países da Europa dos 15 à excepção de Portugal, o que é muito estranho. Pelo que pude perceber, são provavelmente mais parecidos que qualquer outras duas organização de património da Europa: ambos têm de cuidar de monumentos, classificar edifícios e planear.
Que projectos quer realizar com o Ippar?

Ainda é cedo para adiantar pormenores. A maioria dos sítios do English Heritage são muito mais comerciais do que os do Ippar. E nós temos muito a aprender com a forma como o Ippar classifica os edifícios.

Em que medida?

Em Portugal, o processo de classificação é público, o proprietário é consultado. Em Inglaterra tudo é feito em segredo. Só se sabe que o edifício foi classificado quando o proprietário recebe uma carta. Não devia ser assim. O sistema português, que é mais discutido, é melhor, apesar de mais burocrático.No Reino Unido quanto tempo demora classificar um edifício?
Uma semana, um mês...
Em Portugal pode levar dez anos...
É um dos custos da consulta pública. Gostávamos de ter um sistema que não fosse tão lento como o vosso mas igualmente aberto.
Qual é o vosso principal objectivo?
Garantir que o "ambiente histórico" é passado às gerações futuras tal como chegou até nós ou melhor. Passamos muito tempo a identificar os bens que queremos salvar e as soluções para a sua conservação.

O que é que quer dizer exactamente com "ambiente histórico"?

Preferimos usar "ambiente histórico" porque abarca tudo: paisagens, jardins, parques, sítios arqueológicos, edifícios medievais, palácios do século XVIII, arranha-céus dos anos 60.

Quantos bens têm de gerir?

Temos 420 sítios de gestão directa abertos ao público. Mas temos cerca de 400 mil edifícios classificados e 30 mil sítios arqueológicos.

Quais são os principais desafios que o património britânico enfrenta?

A Inglaterra está a atravessar um período de profundas transformações económicas, o que cria uma grande pressão nas infra-estruturas: estradas, aeroportos. Todos estes equipamentos têm potencial para afectar o património. O nosso desafio é fazer com que estas transformações melhorem o "ambiente histórico".

Qual é a chave para conciliar "ambiente histórico" e desenvolvimento económico?
Convencer as pessoas de que é melhor trabalhar com o "ambiente histórico" do que contra ele.
O financiamento não é um problema?
É um problema enorme. Este ano recebemos do Governo 177 milhões de euros e tivemos de receitas próprias 72,4 milhões. Mas as contribuições do Governo estiveram congeladas durante dez anos...
Os trabalhistas apoiam o património?

Não temos sido bem financiados, mas espero que no futuro venhamos a ser porque o nosso trabalho é reconhecido assim como o papel social do património.

Qual é o vosso ponto forte?

A mais-valia está na nossa grande experiência comercial. O sistema de protecção do património costumava ser um dos mais avançados. Hoje não é. É por isso que é preciso reformá-lo.

Que reforma é essa?

A conservação tinha a ver com preservação - impedir que as coisas acontecessem. O que queremos agora é mudar a forma como as pessoas pensam a conservação - ela tem sobretudo a ver com a gestão da mudança. É ela que cria a história e, por isso, o "ambiente histórico". Temos de ajudar as pessoas, que se interessam cada vez mais pelo património, a aceitar a mudança.

Como é que explica esse interesse?

Com a própria mudança. O desenvolvimento económico faz com que as pessoas olhem para trás à procura do que é permanente.

O que é que define o património?

As pessoas. Há dois erros comuns no que diz respeito ao património. O primeiro é pensar que é sobre edifícios - é sobre as pessoas e o que elas investem nos tijolos. O segundo é pensar que é sobre o passado - é sobre o futuro, o que ficará depois de nós desaparecermos.